Procurar a Verdade é Bastante
Diferente de Buscar por Informação
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
 
 
São sagrados os sentimentos de amizade e boa vontade entre os que buscam o conhecimento divino, e entre todos os seres. A substância interna da afinidade deve ser protegida do uso demasiado frequente de adornos sociais e verbais, cujo peso, quando excessivo, destrói a energia da comunhão e da harmonia.
 
A sustentação da fraternidade deve ocorrer mais em silêncio do que em palavras. As emoções generosas merecem o devido respeito. No entanto, precisam ser observadas com um grau de severidade impessoal, porque tendem a vir do eu inferior.
 
Evitando um florescimento irracional de percepções pessoais, o estudante previne a ocorrência de desânimo. Uma avidez desnecessária produz momentos de desalento. Um entusiasmo duradouro é alimentado pela moderação.
 
Buscar a verdade é bastante diferente de buscar por informação. É possível procurar por informação e acumular grande quantidade de dados sem nunca renunciar a opiniões ilusórias e falsas premissas.
 
Para buscar a verdade, por outro lado, é preciso tomar decisões em relação ao que é verdadeiro ou falso. O estudante deve deixar de lado todo apego cego a qualquer informação estabelecida, sempre que a informação revelar-se como falsa. À medida que fazemos progresso na direção da verdade, nos afastamos da ilusão, e isso nem sempre é fácil de fazer, porque implica frequentemente uma sensação inicial de perda.
 
A Bênção da Insignificância
 
Em teosofia,  a aceitação da insignificância pessoal é um fator tão importante quanto a coragem de desafiar a ignorância organizada.
 
A relativa insignificância do eu inferior é aceita quando o eu inferior tem o privilégio de colocar-se a serviço do eu superior. Então compreendemos que não há coisa alguma realmente insignificante na vida.
 
Não se deve rejeitar automaticamente algo que parece ser uma tarefa ou um dever destituído de valor, um momento vazio, ou uma atividade entediante. As aparências enganam: há sempre lições a tirar de todas as coisas.
 
O aprendiz da sabedoria vê com contentamento a ideia de ser considerado um indivíduo insignificante. A humildade é uma forma de desapego: a mente simples renuncia a toda sofisticação desnecessária. Assim a consciência transfere o seu foco para o eu superior, cujo brilho é externamente invisível, silencioso, e quase despercebido.
 
Um Autoexame Oportuno
 
Antes de falar muito sobre questões filosóficas, o peregrino deve examinar as consequências de suas palavras. E  não só as consequências imediatas; as de longo prazo também.
 
Ele estará preparado para todas elas?
 
Renunciar a expectativas pessoais em relação ao resultado das nossas ações não é a mesma coisa que ser irresponsável diante das consequências do que fazemos. Longe disso. Embora não plante com objetivos egoístas, o estudante da verdadeira filosofia deve ser extremamente cuidadoso com aquilo que semeia.
 
A grande regra do aprendizado da sabedoria eterna é que aprender implica enfrentar testes sempre novos e inesperados. A aprendizagem inclui várias encarnações. Cabe planejar a semeadura como um projeto durável. A autorregulação é uma ciência decisiva na vida, e a plena atenção permite discernir o certo e o errado segundo o nosso grau de discernimento.
 
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Uma versão inicial do texto acima foi publicada sem indicação do nome de autor na edição de dezembro de 2015 de “O Teosofista”, pp. 4-5.
 
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