Pomba Mundo
 
Um Poema Para a Verdade:
Comparando a Teosofia e o Jesuitismo
 
 
Um Mahatma dos Himalaias
 
 
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Nota Editorial de 2013:
 
Publicamos a seguir trecho central de um documento sem par na literatura esotérica moderna: a Carta 74 de “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett” (Ed. Teosófica, Brasília, dois volumes).
 
Para entender  melhor o texto, cabe levar em conta alguns dados básicos sobre a luta dos mestres dos Himalaias e dos seus discípulos contra os sistemas organizados de manipulação coletiva, entre os quais se destacam historicamente  o Vaticano e os jesuítas.  O dicionário Aurélio da língua portuguesa, edição de 1999,  define a palavra “jesuíta” com duas acepções. A primeira é “membro da Cia. de Jesus”. A segunda é  “indivíduo dissimulado, astucioso, fingido, hipócrita”.  Para a palavra “jesuítico”, no mesmo dicionário, encontramos entre outros os sinônimos  “fanático” e “faccioso”.
 
Os jesuítas parecem ter tido dentro da sua Ordem uma divisão que funcionava nos moldes de um  serviço secreto e operava através de mentiras, fraudes e violência. Desde meados do século dezoito até pouco depois da independência brasileira em  1822,  a Companhia de Jesus foi fechada e proibida em todo o mundo. No que tange a Portugal e Brasil, a “gota  d’água” que provocou o fechamento da Companhia de Jesus durante  mais de meio século foi o assassinato de um rei português.
 
Na segunda metade do século dezenove, os jesuítas estavam novamente agindo à vontade.  No século 20,  a derrota do nazismo e do fascismo debilitou profundamente o Vaticano e a Companhia de Jesus.  Após o fim da segunda guerra mundial, a organização Opus Dei, criada  sob a inspiração do fascismo espanhol, parece haver assumido grande parte das operações secretas antes promovidas pelos jesuítas. O filme e o livro “O Código Da Vinci” retratam  esse  processo de forma romanceada.
 
Os escritos de H.P. Blavatsky e dos Mestres dos Himalaias consideram  que os jesuítas, na maior parte dos casos, são seres treinados na arte da mentira e da dissimulação.  Nisso, confirmam o testemunho de inúmeras pessoas  ao longo do tempo,   inclusive o do pensador francês Blaise Pascal.
 
Na Índia e na Europa do século 19, membros influentes da Companhia de Jesus lidavam com energias ocultas seguindo a inspiração de uma  Loja de Magia baseada no Egoísmo e no uso intensivo da falsidade.  Adversários do ideal de progresso humano, eles procuravam derrotar o movimento teosófico agindo de dentro para fora, isto é, através de infiltração.  É sintomático, por exemplo, o fato de que Annie Besant  tomou o poder político  no movimento teosófico pouco depois da morte de Helena Blavatsky,  e não só não criticou  os jesuítas ou o Vaticano,  mas tratou de imitá-los.  Ela criou uma “igreja católica teosófica” e outros rituais que servem até hoje como mecanismos de poder papal  e controle político “infalível” na Sociedade Teosófica de Adyar.
 
O leitor vê no documento a seguir uma comparação direta entre os métodos da Loja dos Irmãos da Fraternidade Universal e os métodos da Loja Oculta do Egoísmo, que produz  fraudes devocionais através de ritualismos,  chantagem emocional e outros jogos de aparência.  Estudando as Cartas dos Mahatmas, o estudante pode alcançar duas metas ao mesmo tempo:
 
1) Uma delas é compreender e afastar-se por mérito próprio dos métodos e da influência da Loja Oculta que trabalha com fraudes piedosas;
 
2) A outra é  compreender e aproximar-se do Caminho Estreito da Verdade e do campo magnético dos que trabalham pela fraternidade de todos os seres.
 
Sempre que a  obediência automática a estruturas de poder   substitui a busca da verdade,  temos diante de nós uma ponta do iceberg da ilusão espiritual.  Mas isso não é fácil de perceber, e um pensador escreveu, com  razão:
 
“O mal está condenado a imitar as aparências do bem”.
 
De fato, a mentira toma providências para ser parecida com a verdade. Cabe ao estudante da filosofia esotérica aprender a pensar por si mesmo e enxergar a diferença entre  o joio e o trigo, a ilusão e a verdade, a fraude religiosa e o compromisso com a sinceridade.
 
Para que possa encontrar o rumo correto no século 21, o movimento esotérico deve compreender a Carta 74 de “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”. O texto esclarece como funciona, de fato, o discipulado. O processo é diametralmente oposto às fantasias colocadas em  circulação pela pseudoteosofia. O verdadeiro método de provações e aprendizado tem como base a autonomia do aluno, e não a crença cega ritualística, proposta tanto pelos jesuítas como por Annie Besant.
 
Para facilitar a compreensão profunda do documento,  dividimos parágrafos longos em parágrafos curtos.  
 
(Carlos Cardoso Aveline)
 
Duas Escolas de Ocultismo
 
Um Mahatma dos Himalaias
 
(……)
 
Um chela em provação tem permissão para pensar e fazer o que quiser. Ele é advertido e informado previamente: “Você será tentado e enganado pelas aparências; dois caminhos se abrirão diante de você, os dois levando à meta que você está tentando alcançar; um, fácil, e este o levará mais rapidamente ao cumprimento das ordens que você pode receber; o outro, mais árduo, mais longo; um caminho cheio de pedras e espinhos que o farão pisar em falso mais de uma vez; e no final do qual você pode, talvez, chegar a um fracasso, depois de tudo, e ser incapaz de executar as ordens dadas para um pequeno trabalho particular – mas, enquanto este caminho fará com que as dificuldades enfrentadas por você devido a ele sejam todas contabilizadas a seu favor a longo prazo, o outro, o caminho fácil, só pode oferecer a você uma gratificação momentânea, uma realização fácil da tarefa”.
 
O chela tem toda liberdade, e frequentemente muitas razões, do ponto de vista das aparências, para suspeitar que seu Guru é “um impostor”, uma palavra elegante. Mais que isso: quanto maior e mais sincera sua indignação – seja ela expressada com palavras ou esteja fervendo em seu coração – tanto mais adequado ele é, e mais qualificado para tornar-se um adepto.
 
Ele é livre para usar, e não terá que responder pelo fato de empregar até mesmo as palavras e expressões mais abusivas em relação às ações e ordens do seu guru, uma vez que ele saia vitorioso da provação; uma vez que ele resista a todas e cada uma das tentações; que rejeite todas as seduções; e comprove que nada, nem mesmo a promessa daquilo que ele considera mais valioso que a vida, daquela bênção extremamente preciosa, seu futuro adeptado – é capaz de fazer com que ele se desvie do caminho da verdade e da honestidade, ou forçá-lo a tornar-se um enganador.
 
Meu caro senhor, nós dificilmente concordaremos alguma vez em nossas ideias das coisas, e mesmo em relação ao valor das palavras. Você nos chamou em determinada ocasião de jesuítas; e, vendo as coisas como você vê, talvez você estivesse certo, até certo ponto, em ver-nos deste modo, já que aparentemente nossos sistemas de treinamento não diferem muito. Mas só externamente.
 
Como eu disse certa vez, eles sabem que o que eles ensinam é uma mentira; e nós sabemos que o que nós transmitimos é verdade, a única verdade e nada mais que a verdade.
 
Eles trabalham para maior poder e glória (!) da sua ordem; nós – para o poder e a glória final dos indivíduos, de unidades isoladas, da humanidade em geral, e estamos contentes de, ou melhor, somos forçados a deixar nossa  Ordem e seus chefes inteiramente no esquecimento.
 
Eles trabalham, e se esforçam, e enganam, em função do poder mundano nesta vida; nós trabalhamos e nos esforçamos, e deixamos que nossos chelas sejam temporariamente enganados, para dar-lhes meios de nunca mais serem enganados a partir de agora, e de ver toda a maldade da falsidade e da mentira, não só nesta vida mas em muitas vidas depois desta.
 
Eles, os jesuítas, sacrificam o princípio interno, o cérebro espiritual do ego, para alimentar e desenvolver melhor o cérebro físico do homem pessoal e evanescente, sacrificando toda a humanidade para oferecê-la em holocausto à Sociedade deles – o monstro insaciável que se alimenta com o cérebro e a medula da humanidade, e desenvolvendo um câncer incurável em cada ponto de pele saudável que toca.
 
Nós, os criticados e mal-entendidos Irmãos, tentamos levar os homens a sacrificar a sua personalidade – um relâmpago passageiro – pelo bem-estar de toda a humanidade, portanto pelos seus próprios Egos imortais, que são parte dela, assim como a humanidade é uma parte do todo integral, ao qual se reunirá um dia.
 
Eles são treinados para enganar; nós, para desenganar; eles fazem o papel de animais que se alimentam de carniça, confinando alguns poucos pobres e sinceros instrumentos deles – con amore, e com objetivos egoístas; nós, deixamos isso para nossos lacaios, os dugpas que trabalham para nós, e lhes damos carte blanche [1] por algum tempo, com o único objetivo de extrair toda a natureza interna do chela, a maior parte de cujos cantos e recantos permaneceria escura e escondida para sempre, se não fosse dada uma oportunidade para que cada um destes cantos fosse testado.
 
Se o chela conquista ou perde o prêmio é algo que depende apenas dele. Só que você deve lembrar que as nossas ideias orientais sobre “motivações”, “sinceridade” e “honestidade” diferem consideravelmente das suas ideias no Ocidente.
 
Ambos acreditamos que é moral dizer a verdade e imoral mentir; mas aqui toda analogia termina e nossas noções passam a divergir em um grau bastante notável. Por exemplo, seria uma coisa extremamente difícil para você dizer-me como é que a sua sociedade ocidental e civilizada, com sua igreja, Estado, política e comércio, puderam em algum momento assumir uma virtude que é completamente impossível de praticar em sentido irrestrito por um homem culto, um estadista, um comerciante, ou qualquer outro que viva no mundo?
 
Poderá qualquer uma das classes mencionadas acima – a fina flor da nobreza da Inglaterra, seus mais orgulhosos fidalgos e mais destacados membros do parlamento, suas damas virtuosas e sinceras – poderá qualquer um deles falar a verdade, pergunto, seja em seu lar, ou em sociedade, durante suas funções públicas ou no círculo familiar?
 
O que você pensaria de um cavalheiro, ou dama, cuja afável polidez de maneiras e suavidade de linguagem não cobrisse falsidade alguma; alguém que, ao encontrar você, lhe diria direta e abruptamente o que pensa de você, ou de qualquer outra pessoa?
 
E onde você pode encontrar aquela pérola de comerciante honesto ou aquele patriota temente a Deus, ou político, ou um simples visitante casual seu, que não esconde seus pensamentos todo o tempo, e é obrigado, sob pena de ser visto como um bruto, um louco – a mentir deliberadamente, e com uma expressão facial enfática, assim que é forçado a dizer o que pensa de você; a menos que por milagre seus sentimentos reais não exijam ser escondidos?
 
Tudo é mentira, tudo falsidade, ao redor de nós e em nós, meu irmão [2] ; e é por isso que você parece tão surpreso, se não abalado, sempre que encontra uma pessoa que diz a você cara a cara a dura verdade, e também é por isso que parece impossível a você compreender que um homem pode não ter nenhum mau sentimento contra você, e até mesmo gostar de você e respeitá-lo por certas coisas, e no entanto dizer-lhe frente a frente o que pensa honesta e sinceramente de você.
 
NOTAS:
 
[1]  “Carte blanche”: “carta branca”, em francês; total liberdade. Os “dugpas” são inimigos da verdade que trabalham com forças sutis e combatem o trabalho dos Mestres. Esta passagem retrata um princípio central do verdadeiro treinamento oculto, que também aparece na Bíblia, mais precisamente em Jó, capítulo dois. A noção de Annie Besant e Charles Leadbeater segundo a qual o Mestre “protege o discípulo da possibilidade de errar” faz parte da vasta fraude pseudoteosófica criada após a morte de Henry Olcott em 1907. (CCA)
 
[2] Embora escrita por um sábio oriental, esta frase coincide com a melhor tradição da filosofia ocidental. Ela pode ser comparada, por exemplo, com as palavras de um notável  filósofo francês. Blaise Pascal (1623-1662) confrontou os Jesuítas em uma série de Cartas Abertas.  Numa delas, ele escreveu:  “A vida humana (…) é só uma ilusão perpétua; os homens enganam e lisonjeiam uns aos outros. Ninguém fala de nós em nossa presença da mesma maneira como faz na nossa ausência. O convívio humano se baseia no engano recíproco; poucas amizades durariam, se cada um soubesse o que o seu amigo diz dele em sua ausência, mesmo que ele fale com sinceridade e sem paixão. O homem é, portanto, apenas disfarce, falsidade, e hipocrisia, tanto em si mesmo como na relação com os outros. Ele não quer que ninguém diga a ele a verdade; ele evita dizer a verdade aos outros, e todas estas inclinações, tão afastadas da justiça e da razão, estão enraizadas em seu coração”. (“Pensées”, de Blaise Pascal, Encyclopaedia Britannica, “Great Books of the Western World”, 1955, impresso nos EUA, 487 pp., ver itens 99 e 100, pp. 191-192.)  (CCA)
 
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida.
 
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