Pomba Mundo
 
Líder Indiano Teve Contato
Direto com o Movimento Esotérico
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
Mahatma Gandhi e a Teosofia
 
Mohandas Gandhi identificou o joio e o trigo no movimento teosófico
 
 
 
“As nossas escrituras declaram que não há
Dharma [Religião, Dever] mais elevado que a Verdade.”
 
Gandhi [1]
 
 
 
A simpatia de Mohandas Gandhi pela filosofia teosófica começou quando Helena Blavatsky morava em Londres.
 
Embora Gandhi fosse hindu,  o seu interesse pelo hinduísmo só foi despertado graças aos teosofistas. Ele conta o episódio na sua Autobiografia:
 
“Perto do final do meu segundo ano na Inglaterra, conheci dois teosofistas, que eram irmãos, ambos solteiros. Eles me falaram sobre o Gita.  Eles estavam lendo a tradução de Sir Edwin Arnold  – ‘The Song Celestial’ – e me convidaram a ler o original com eles. Senti vergonha, porque não havia lido o poema nem em Sânscrito, nem no idioma Gujarati. Fui forçado a admitir que não havia lido o Gita, mas disse que seria uma satisfação lê-lo com eles, e que, embora o meu conhecimento de Sânscrito fosse limitado, eu tinha esperança de compreender o original o suficiente para avisar quando a tradução não conseguisse transmitir o significado. Comecei a ler o Gita com eles. Os versos do capítulo dois (…..) me impressionaram profundamente, e ainda hoje eles ressoam em meus ouvidos.   Considerei o livro como algo de valor inestimável. Desde então esta impressão só cresceu dentro de mim…”. [2]
 
Algumas linhas mais adiante, Gandhi conta que visitou a loja Blavatsky do movimento teosófico em Londres, onde foi apresentado a H. P. Blavatsky.
 
E acrescenta:
 
“Lembro de haver lido, convidado pelos dois irmãos, a obra ‘A Chave da Teosofia’, da sra. Blavatsky. Este livro estimulou em mim o desejo de ler livros sobre hinduísmo e desfez a ideia, estimulada pelos missionários cristãos, de que o hinduísmo era dominado pela superstição.”
 
Mais tarde, Gandhi faria, ele próprio, uma versão do “Bhagavad Gita”.  
 
Em 1911, duas décadas depois da morte de Helena Blavatsky, Annie Besant havia tomado a liderança da Sociedade Teosófica de Adyar e abandonado a teosofia original. Neste ano Gandhi já tinha uma opinião firme em relação aos novos rumos do movimento teosófico.  Com sua franqueza habitual, o líder da luta pela independência da Índia descreveu o que pensava a respeito o trabalho de Annie Besant, depois que ela deixou de lado a verdadeira filosofia esotérica.
 
Gandhi não usou meias palavras:
 
“Eu não creio que a sra. Besant seja uma hipócrita: ela é crédula e foi enganada por Leadbeater. Quando um inglês sugeriu a mim que lesse o livro ‘Life After Death’ (‘A Vida Após a Morte’), de Leadbeater, eu me recusei de imediato a fazer isso,  porque já tinha suspeitas sobre ele depois de ver seus outros escritos. Quanto à fraude armada por ele, eu vim a saber dela mais tarde.” [3]
 
Gandhi afirma que Annie Besant é crédula e não hipócrita. A frase lembra as primeiras palavras da famosa Carta de 1900, que um Mestre dos Himalaias mandou para Annie Besant:
 
“Diz um provérbio tibetano: credulidade gera credulidade  e termina em hipocrisia”. [4] 
 
O Mestre esclarece que credulidade e hipocrisia costumam andar juntas. E, de fato, a história do movimento teosófico tem confirmado essa ideia.  A história  também vem confirmando  a tese de que, assim como nada no universo é eterno em si como forma separada, assim também nenhuma ilusão ou manipulação de poder  pode durar além do seu “prazo de validade”.  
 
Chegada a hora, o véu é rasgado.   
 
A Fraternidade das Religiões
 
Mahatma Gandhi tomou distância da pseudoteosofia, mas manteve sua admiração pela filosofia teosófica autêntica.
 
Em 1938, a sra. Sophia Wadia, uma das maiores lideranças da Loja Unida de Teosofistas (LUT) na Índia,  teve publicado seu livro “The Brotherhood of Religions” (“A Fraternidade das Religiões”).
 
No prefácio da obra, Mahatma Gandhi escreveu:
 
“Estes ensaios de Sophia Wadia mostram com um só olhar quanta semelhança há entre as principais tradições religiosas da Terra, no que diz respeito aos aspectos fundamentais da vida. Todos os nossos conflitos mútuos surgem de aspectos não-essenciais. Os textos de Sophia Wadia serão amplamente recompensados se pessoas que pertencem a diferentes religiões estudarem outras tradições religiosas além das suas, tendo a mesma reverência e o mesmo respeito pelas grandes religiões do mundo que ela demonstra em seus ensaios. Um conhecimento compreensivo e um respeito pelas grandes religiões do mundo é o alicerce da Teosofia (…)”. [5]
 
A afinidade da filosofia de Gandhi com a teosofia autêntica é profunda.  Gandhi batizou sua luta social na Índia de “Satyagraha”, palavra que pode ser traduzida como “firmeza na verdade”. 
 
Seu ashram – local de retiro em comunidade – se chamava Satyagraha, e ele escreveu que a verdade era a razão de ser do ashram. [6] O lema do movimento teosófico moderno – fundado em 1875 – é “Não há Religião Mais Elevada que a Verdade”.  O teosofista, escreveu Helena Blavatsky nos parágrafos iniciais de “A Chave da Teosofia”, é um filaleteu, um amigo da verdade.
 
NOTAS:
 
[1] “All Men Are Brothers”, Life and Thoughts of Mahatma Gandhi, As Told In His Own Words, UNESCO (United Nations), Paris, 1958, 196 pp., ver p. 47.
 
[2] “An Autobiography – or The Story of My Experiments with Truth”, M. K. Gandhi, Penguin Books, London, 1982, 454 pp., ver o capítulo 20 da Parte I, pp. 76-77.
 
[3] “The Collected Works of Mahatma Gandhi”, Carta ao Dr. Pranjivan Mehta, datada de  08 de maio de 1911,  vol. XI. Trecho citado por  Gregory Tillett no livro “The Elder Brother, a biography of Charles Webster Leadbeater”,  Routledge & Kegan Paul, London, Boston, Melbourne & Henley, 1982, 338 pp., ver p. 07.
 
[4] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, Ed. Teosófica, Carta 46 da primeira série, p. 106.
 
[5] “The Brotherhood of Religions”, Sophia Wadia, Asian Book Trust in Association with Theosophy Co. (India), Bombay, 1996, 171 pp., ver  p. 03.
 
[6] “Cartas ao Ashram”, Gandhi,  Ed. Hemus, SP, Brasil, 124 pp., ver p. 25.
             
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Uma versão inicial do texto acima foi publicada no boletim eletrônico “O Teosofista”, na edição de julho de 2007, sob o título de “Gandhi Comenta Annie Besant e Leadbeater”.
 
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Para conhecer a teosofia original desde o ângulo da vivência direta, leia o livro “Três Caminhos Para a Paz Interior”, de Carlos Cardoso Aveline.
 
Três_Caminhos_Auxiliar
 
Com 19 capítulos e 191 páginas, a obra foi publicada em 2002 pela Editora Teosófica de Brasília.   
 
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