Pomba Mundo
 
Já Está Bem Demarcado o
Caminho do Esforço Autorresponsável
 
 
John Garrigues
 
 
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Uma das palavras mais sagradas da nossa língua é “confiança”, e constitui um mensageiro alado entre duas almas. Confiança é uma qualidade natural e não uma abstração vazia. A sua expressão é espontânea, ou não há confiança.
 
A mais alta expressão de confiança é aquela que existe entre o Mestre e o aprendiz dedicado; em segundo lugar está a confiança entre os aprendizes do mesmo Instrutor autêntico. Depois vem a confiança, realmente sublime, que o Eu Superior deposita na mãe ao reencarnar; quando tem condições de expandir-se, esta confiança passa a incluir toda a família imediata ao seu redor, e à medida que o tempo passa abarcará os mais próximos, a comunidade, o estado, a nação, e também o mundo.
 
Basta refletir um pouco para percebermos: nenhuma ação é possível, a menos que tenha  como premissa uma convicção espontânea de que “a Vida sustenta todas as formas que necessitam de Vida”.
 
Que nação poderia sobreviver, se não tivesse como alicerce esta qualidade básica? A resposta é “nenhuma nação”, e isso tem sido confirmado uma e outra vez pela história.
 
O mesmo resultado infeliz ocorre quando não há uma confiança espontânea a durável entre as nações, ou entre os indivíduos. Neste caso a ruptura das amizades e uma ação separativa se tornam a regra. A experiência histórica nos permite adotar critérios valiosos, e para o estudante de teosofia alguns fatos da história recente trazem lições da maior importância sobre o princípio da Confiança e a sua aplicação prática. 
 
A instrutora, Helena P. Blavatsky, veio a um mundo em que as pessoas em geral confiam pouco e desconfiam muito, e trouxe uma Mensagem de Confiança Daqueles em quem ela confiava e que confiavam nela.
 
A vida e o trabalho de H. P. B. demonstram que ela também confiava na humanidade. Ela confiava no seu próprio poder de ensinar à humanidade e na capacidade humana de aprender; e por isso ela fez o Grande Sacrifício. A grande massa da humanidade não conseguiu confiar nela, conforme puderam constatar os poucos estudantes de teosofia que a entenderam. 
 
Se a Confiança é algo espontâneo, por que será necessário expressá-la? Este não é um mistério sem solução, porque o ser humano tem o poder autoconsciente de escolher. E este poder tem sido usado durante uma quantidade incalculável de séculos para colocar a confiança no que é externo ao próprio ser humano. Desde a sua infância a humanidade tem sido instruída regularmente sobre o “comportamento correto” pelos “Irmãos Mais Velhos” que alcançaram um nível elevado de evolução através da observação e da experiência. Em seu próprio momento eles foram ajudados por outros Irmãos Mais Velhos, em uma linhagem que se perde no passado remoto e no tempo infinito.
 
O caminho do esforço autoplanejado e autorresponsável está demarcado de modo claro, e a humanidade tem tido que fazer esforços por sua conta. Se não fosse assim, nenhuma lição seria verdadeiramente aprendida. Foi nas tentativas de colocar as lições em prática, portanto,  que aconteceram os fracassos. Com as derrotas surgiu uma gradual perda do sentido de responsabilidade individual. Ao mesmo tempo, alguns proclamaram a si mesmos como instrutores e como guias espirituais. Desta maneira a confiança foi colocada onde não deveria. Surgiram as ideias de deuses personalizados, religiões formais e salvações vicárias, e passou a predominar a doutrina da irresponsabilidade. Mas mesmo estes males que ameaçam a humanidade – e que foram criados por ela própria – deixarão de existir no final do seu ciclo.
 
Foi ao terminar todo um período cíclico que H. P. B. fez soar a nota-chave de uma nova era, melhor e mais iluminada. Ela sabia que estamos em uma época de transição na história humana, na qual todos os sistemas de pensamento, sistemas científicos e religiosos, sistemas de governo e sistemas sociais estão mudando. Sabia que num tal período é necessária a promulgação de ideias verdadeiras, mas também se abrem as portas para abusos de todo tipo, especialmente contra aqueles que se esforçam para colocar as novas correntes de pensamento em canais construtivos.
 
O poder da desconfiança se tornou comparável, em força, ao poder da Confiança. Mas, assim como no caso das almas valentes que arriscaram tudo para constituir a República [dos Estados Unidos da América do Norte], H. P. Blavatsky também encontrou alguns voluntários que a ajudaram a fundar e a impulsionar mais uma vez entre os seres humanos o movimento teosófico.  Alguns poucos confiaram em H. P. B. e mantiveram vivo o movimento que ela começou.  Hoje são mais numerosos que na época dela, os que estão dispostos a continuar a missão, mas ainda não são muitos! É evidente que a Confiança espontânea não se expressa com a força que deveria ter, mais de cinquenta anos depois. [1]
 
William Q. Judge, que confiava em H. P. B., e em quem ela confiava, certa vez citou algumas palavras que despertam aquela confiança espontânea no coração de todos que as leem:
 
“Nós fazemos um apelo, portanto, a todos os que querem erguer-se e erguer os outros seres – humanos e animais – no sentido de que deixem de lado a rotina impensada da vida diária egoísta. Não pensamos que a Utopia possa ser construída em um dia: mas, através da divulgação da ideia da Fraternidade Universal, a verdade presente em todas as coisas pode ser descoberta. O que necessitamos é um verdadeiro conhecimento da dimensão espiritual do ser humano, do seu objetivo e do seu destino. O estudo deste tema nos leva a aceitar o conselho de Prajapati a seus filhos: ‘Sejam modestos, sejam generosos, tenham compaixão: assim morre o egoísmo’.” [2]
 
E Robert Crosbie, que fundou a Loja Unida de Teosofistas porque confiava nos Mestres, disse: “…Tenho a impressão de que a confiança é o elo que une e faz a força do movimento, porque é algo que pertence ao coração.”
 
NOTAS:
 
[1] O movimento teosófico foi fundado em 1875. O artigo “O Poder da Confiança” foi publicado pela primeira vez em 1934, mais de cinquenta anos depois. (CCA)
 
[2] Garrigues está citando um artigo intitulado “The Path”. Veja “Theosophical Articles”, W. Q. Judge, Theosophy Co., Los Angeles, Vol. II, p. 572. (CCA)
 
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O texto acima foi publicado pela primeira vez pela revista “Theosophy”, de Los Angeles, edição de maio de 1934, pp. 307-308, sem indicação de nome de autor. Uma análise do seu estilo e conteúdo feita em 2015 indica que foi escrito por John Garrigues (1868-1944). Título original: “Trust”. Em relação aos critérios usados para identificar textos de J. G., veja o artigo “A Vida e os Escritos de John Garrigues”, de Carlos Cardoso Aveline. O texto está disponível em nossos websites associados.
 
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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
 
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Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.
 
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