Um Exemplo Vivo da
Amarga Sinceridade dos Sábios
 
 
Helena P. Blavatsky
 
 
 
Helena P. Blavatsky, uma estátua feita por Alexey Leonov
 
 
 
Nota Editorial:
A Chave Para Romper o Engano
 
Cada época e cada país sofrem de certas formas particulares de ilusão e cegueira, que não é possível identificar com facilidade. Por isso cabe expandir a nossa noção de tempo e de espaço para que ela abranja outras eras e diferentes nações.
 
Um modo eficaz de manter-se relativamente livre das ilusões de hoje consiste em seguir o conselho de Lúcio Sêneca e “falar com” e “ouvir” os maiores pensadores de todas as épocas.
 
Não há necessidade de permanecer cego.
 
As obras de Helena Blavatsky e as Cartas dos Mahatmas constituem uma chave para abrir as portas do Tempo e entender corretamente pensadores como Epicteto, Cícero, Marco Aurélio, Plutarco, Musônio Rufo, Leibniz, Spinoza, Francis Hutcheson, Barão Holbach, Immanuel Kant, Ivan Il’in, além de obras como o Talmude, o Dhammapada, os Vedas ou a mitologia antiga de todas as nações – para mencionar apenas alguns exemplos.
 
Um tal estudo também nos ajuda a trabalhar de modo mais efetivo por um futuro saudável.
 
(Carlos Cardoso Aveline)
 
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Observando a Rede de Mentiras
 
Helena P. Blavatsky
 
O egoísmo, primogênito da Ignorância, é resultado do ensinamento segundo o qual para cada nova criança que nasce é “criada” uma nova alma, separada e diferente da Alma Universal. Este Egoísmo é o muro intransponível entre o Eu pessoal e a Verdade. É o pai prolífico de todos os vícios humanos.
 
A Mentira nasce da necessidade de fragmentar, e a Hipocrisia decorre do desejo de esconder a Mentira. É o fungo que cresce e se fortalece com a passagem do tempo em todo coração humano em que consegue devorar os melhores sentimentos.
 
O Egoísmo mata todo impulso nobre em nossas naturezas, é a única divindade, e não teme a falta de fé nem a deserção dos seus seguidores. Por isso o vemos reinar supremo no mundo e na sociedade governada pela moda. Como resultado, vivemos, nos movemos e temos o nosso ser neste deus da escuridão, em seu aspecto trinitário de Fingimento, Farsa e Falsidade, chamado RESPEITABILIDADE.
 
Isto é um Fato e uma Verdade, ou será calúnia?
 
Olhe para qualquer lado que quiser, desde o ponto mais alto da escala social até o nível mais inferior, e encontrará o embuste e a hipocrisia funcionando para benefício do amado Eu, em todas as nações e cada indivíduo. Mas as nações, por um acordo tácito, decidiram que as motivações egoístas em política serão chamadas de “nobre aspiração nacional, patriotismo”, etc.; o cidadão vê a mesma coisa em seu círculo familiar e a chama de “virtude doméstica”. Apesar disso, o Egoísmo nunca pode ser chamado de virtude, seja quando produz um desejo de expansão de território ou de competição no comércio às custas do nosso próximo.
 
Vemos a fala adocicada ocultando a FALSIDADE e a FORÇA BRUTA, o Jaquim e Boaz [1] de todo o Templo Internacional de Salomão conhecido como Diplomacia, e nós o chamamos pelo seu nome correto. Deveríamos aplaudir o diplomata, só porque ele se inclina humildemente diante destes dois pilares da glória nacional e da política, e coloca em prática diariamente o simbolismo maçônico das palavras “com força [e astúcia] esta minha casa será estabelecida[2], isto é, deveríamos aplaudi-lo, só porque ele busca obter pelo engano o que não poderia obter pela força? A qualificação de um diplomata – destreza ou habilidade em obter vantagens para o seu próprio país às custas de outros países – dificilmente pode ser desenvolvida falando a verdade; mas deve ser buscada através de uma fala enganosa e cheia de astúcia; e, portanto, a revista “Lucifer” [3] qualifica este tipo de ação como uma evidente MENTIRA em andamento.
 
Mas não é apenas em política que o costume e o egoísmo se uniram para chamar de virtude o fingimento e a mentira, e para recompensar com estátuas públicas aquele que mente melhor.
 
Todas as classes da sociedade vivem com base na MENTIRA, e seriam despedaçadas sem ela. A aristocracia culta e que teme a Deus e à lei ama tanto o fruto proibido como a classe pobre, e é forçada a mentir da manhã à noite para esconder o que chama de “seus pequenos pecados”, os quais a VERDADE vê como grossa imoralidade. As classes médias são uma rede de falsos sorrisos, conversa falsa e traição mútua. Para a maior parte das pessoas, a religião tornou-se um fino véu dourado que serve para cobrir o cadáver da fé espiritual. 
 
NOTAS:
 
[1] “Jaquim e Boaz”, as duas colunas do Templo de Salomão. Os termos significam respectivamente “estabelecer” e “na força”. (CCA)
 
[2] Isto é, Boaz e Jaquim. (CCA)
 
[3] O presente artigo é parte de um texto maior, publicado pela primeira vez na revista “Lucifer”, que era editada por HPB. A palavra “Lúcifer” é um termo pré-cristão e designa o planeta Vênus. O termo tem sido distorcido desde a Idade Média por teólogos cristãos mal-informados. (CCA)
 
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O fragmento “Observando a Rede de Mentiras” é tradução de uma parte do artigo “What Is Truth?”, de HPB. Ver “The Collected Writings”, Helena P. Blavatsky, TPH, Volume IX, pp. 36-37. O artigo completo de Helena Blavatsky em inglês está disponível em nossos websites associados.
 
O trecho traduzido acima está também na edição de agosto de 2016 de “O Teosofista”, pp. 1-2.  A Nota Editorial  inicial foi publicada pela primeira vez de modo anônimo na página três da mesma edição.  
 
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