Você Não Será Dono de Uma
Vontade Saudável, Enquanto Não
Tiver a Capacidade de Definir uma Meta
 
 
Jean des Vignes Rouges
 
 
 
Um pintinho recém-nascido: você é tão sábio quanto ele?
 
 
 
 “É mantendo com força em sua mente
a visão daquilo que irá satisfazê-lo mais
plenamente, que você unificará a sua personalidade.”
 
 
 
A fome faz com que o lobo saia da floresta.” E traz à tona a vontade na alma do ser humano. Esta é talvez a primeira origem – observável – da vontade. Assim que uma criança nasce, ela realiza movimentos de sucção. O pintinho, ainda no ovo, bate na sua casca com o bico e, assim que sai dela, continua dando bicadas. O passarinho abre o bico e espera que sua mãe coloque comida nele. 
 
Não devemos pensar que todos estes “recém-nascidos” já tenham na cabeça uma imagem da comida que desejam. Não. Eles estão simplesmente com fome. Isso desencadeia os mecanismos apropriados, que avançam pelo método de tentativa e erro. É por esse motivo que a criança chupa o dedo e também o peito, que o pintinho bica o chão ao acaso, e o passarinho abre o bico cada vez que a mãe toca nele.
 
Quando um organismo jovem aprende através da experiência que tipo de movimentos levam ao seu estômago leite, grãos ou purê, ele adquire a noção de objetivo; ele sabe o que quer e, na medida em que utiliza com eficiência o método de tentativa e erro, ele sabe como querer.
 
Infelizmente, muitos seres humanos permanecem quase na fase de recém-nascidos, quando se trata de descobrir um propósito. Esperam até sentir fome, sede, frio, etc., para depois realizar ao acaso algumas ações que reduzam o seu desconforto.
 
A incapacidade de ter uma noção clara da sua meta não assume apenas a forma de imprevidência em relação ao futuro. Ela também se mostra como um desperdício de esforços.
 
Veja estas pessoas inquietas, agitadas, com uma curiosidade febril – elas não sabem o que querem. Como um recém-nascido, sugam qualquer coisa, dão bicadas ao azar, abrem o bico desmesuradamente, mas não sabem o que poderia saciar a sua fome de comida, de prazer, de dinheiro, de honra, de conhecimentos. Em vão elas se agitam com atividades fervilhantes, desperdiçam as suas energias, correm em direção às mais diversas miragens. Estas tentativas infrutíferas não lhes deram, ainda, uma noção concreta do objetivo que devem buscar.
 
Diga a si mesmo, e repita muitas vezes, que você não será dono de uma vontade saudável, enquanto não tiver a capacidade de definir uma meta, ou seja, de saber o que pode saciar a sua “fome” congênita. É mantendo com força em sua mente a visão daquilo que irá satisfazê-lo mais plenamente, que você unificará a sua personalidade. Ao disciplinar e hierarquizar as suas tendências, cada uma delas com a sua “fome” particular, você harmonizará a sua atividade, e traçará no mapa do futuro o caminho a ser seguido.
 
No texto sobre “Ideal” [1], digo a você a maneira de definir os grandes objetivos que dominarão e enobrecerão a sua existência. Mas além do seu “ideal elevado”, estabeleça objetivos mais concretos, e, sobretudo, objetivos mais próximos; eles serão como marcos colocados no caminho que leva ao seu ideal.
 
As metas próximas têm a vantagem de estimular o corpo a reunir suas energias, e tornam a busca mais intensa. Trate, além disso, de escolher objetivos concretos que estão de acordo com as suas possibilidades. Evite sair em busca de quimeras. Mas também não mire muito baixo. Caso haja risco de errar, é melhor apostar na meta que obriga você a olhar para cima.
 
Em termos práticos, examine a cada manhã a seguinte questão:
 
“Qual será o objetivo dos meus esforços, hoje? Ele é razoável? E qual será o meu objetivo amanhã? A que outras metas secundárias devo renunciar, para me dedicar inteiramente àquela que mais me interessa? Não irei ceder à mania da dispersão, imaginando que posso desfrutar ao mesmo tempo do prazer de ser um bom desportista, alguém que sabe dançar admiravelmente, um matemático competente, um palestrante de bares, um financista esperto, um Don Juan, um famoso violoncelista, um pintor cubista e um excelente jogador do jogo de bridge?
 
Um pintinho muito pequeno, ao qual são oferecidos grãos de arroz, de trigo, de cevada ou de aveia, adquire rapidamente a capacidade de discernir para onde deve dirigir as suas bicadas. Ele bica primeiro o grão que melhor se adapta às suas necessidades. Você é tão sábio quanto ele?
 
NOTA:
 
[1] Clique aqui para ver o artigo “Ideal – A Força Propulsora da Vontade”.
 
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Jean des Vignes Rouges é o pseudônimo literário do militar e escritor francês Jean Taboureau (1879-1970).
 
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O artigo “A Meta – Você Sabe o Que Você Quer?” está publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas desde 27 de dezembro de 2023. Foi traduzido do livro “Dictionnaire de la Volonté”, de Jean des Vignes Rouges, Éditions J. Oliven, Paris, 319 pp., 1945, pp. 51-53. A tradução é de Carlos Cardoso Aveline.  Veja o texto original em francês: “But – Savez-Vous Ce Que Vous Voulez?
 
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 
 
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