Quando o Ódio Histérico é Derrotado, Surge
Uma Nova Cadeia de Causação – que Leva à Paz
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
Reconstrução em maquete do Templo de
Israel e da Jerusalém antiga (Modelo Holyland)
 
 
 
Embora as guerras tenham consequências graves, elas pertencem em grande parte ao mundo dos efeitos. É preciso examinar suas Causas.
 
A origem do terrorismo e dos conflitos militares deve ser encontrada na alma humana.
 
Uma guerra é mais do que “a continuação da política por outros meios”. É também uma expressão externa de ignorância espiritual. O caminho da ignorância para a guerra tem uma série de etapas. Os seus passos formam uma complexa Cadeia de Causalidade, uma sucessão de causas e efeitos desastrados.
 
A ausência de sabedoria espiritual e de conhecimento ético leva à ambição cega, e produz um apego imoderado ao prazer de curto prazo. Em seguida, esses dois exageros estimulam a má vontade, e produzem injustiça.
 
Da injustiça vem o ódio. O antagonismo cego destrói, então, a capacidade das pessoas de conviverem em paz.
 
Graças a este desastre sutil, os conflitos políticos que deveriam ser moderados tornam-se cegos e “incondicionais”. A intolerância é adotada como princípio básico da vida das comunidades. As guerras civis e os conflitos entre nações são o resultado natural deste tipo de situação. As pessoas querem “lutar até o fim”. O objetivo é a “derrota total” ou mesmo a eliminação do outro. O antissemitismo constitui um perfeito exemplo deste tipo de doença espiritual.
 
Deste modo, a principal prioridade para as pessoas de boa vontade, se quiserem preservar o realismo, não pode ser a luta pelo “fim imediato de todas as guerras”. Vejamos quatro razões práticas disso.
 
Um.
 
Não faz sentido escolher metas impossíveis. Os amigos da paz não têm o poder real de interromper imediatamente os conflitos militares. Uma vez que uma guerra começa, ela só pode ser concluída depois de produzir os seus principais efeitos e quando já está objetivamente pronta para chegar ao seu final.
 
Dois.
 
Como os conflitos militares são principalmente meros efeitos, as suas causas devem ser eliminadas antes que eles desapareçam.
 
Três.
 
A História mostra que algumas formas doentias de ignorância costumam iniciar guerras – ou provocar o seu início de modo disfarçado. Neste caso, as tentativas de apaziguar a todo custo não funcionam, e a postergação com frequência apenas torna o conflito mais grave. Os projetos brutais de ignorância hostil devem ser derrotados de modo a não deixar dúvidas, e a vitória sobre eles não é algo bonito de ver. Temos um exemplo claro disso na Segunda Guerra Mundial.
 
Berlim, a capital da Alemanha nazista, estava em ruínas no final da guerra, em maio de 1945. A população do país havia sido severamente reduzida, e a razão disso é muito simples: os nazistas e os terroristas que têm uma adoração pela morte não procuram evitar a destruição e o sofrimento das populações que estão sob seu controle. Ao contrário. Eles podem até ter orgulho da devastação dos seus países e fazer propaganda disso para alcançar os seus próprios objetivos.
 
Uma estratégia extremista baseada no uso do sadomasoquismo político e psicológico (estilo de propaganda aliás promovido com frequência para manipular nações inteiras) é cruel e brutal, e, ao mesmo tempo, faz intensamente o papel de pobre vítima sofredora. Uma mente sádica interpreta de imediato todo ato de respeito e de diálogo, vindo do seu adversário, como um mero sinal de fraqueza, e como uma tendência à rendição. Portanto, quanto mais concessões  você fizer a este tipo de adversário, mais ele o verá como um fraco e como alguém que merece apenas desprezo e agressão.  
 
Quatro.
 
Infelizmente, por outro lado, as guerras devem ser reconhecidas como um instrumento pelo qual as sociedades decadentes, disfuncionais, costumam provocar a sua própria desaparição.
 
As guerras econômicas e militares produzem a transição desde uma velha estrutura civilizatória – que já não pode sustentar o seu próprio peso – para um tipo novo e diferente de contrato social, mais adequado às necessidades da evolução e do crescimento da alma humana.
 
Ao mesmo tempo que o presente passa e deixa de existir, o futuro deve nascer. Caso contrário, o passado continuará repetindo a si próprio em um círculo vicioso.
 
Sempre que uma estrutura de vida entre as nações destrói a si mesma através de conflitos militares e econômicos, a tarefa espiritual das pessoas de boa vontade inclui, portanto, provocar o começo de uma nova Cadeia de Causação, um conjunto dinâmico de ações e reações que produzirão ao mesmo tempo justiça e paz, porque as duas coisas são inseparáveis.
 
É preciso expandir outra vez a conexão entre a vida humana e a Lei Una que governa o Universo. Esta afirmação não é feita com base em alguma forma de fé cega. A vida prática mostra que a verdadeira causa da paz consiste em construir e preservar uma interação inspiradora com o mundo divino e com a sua ética de respeito pela Vida.
 
Foi dito em outra ocasião que “é recuperando o nosso contato consciente com o Universo que nos curamos da cegueira espiritual e do sofrimento que ela provoca.” [1]
 
Uma vez que as expressões sociológicas da ignorância histérica são derrotadas, como pode surgir uma nova cadeia de causação? Vejamos um caminho possível, entre milhares de potencialidades.
 
1) Do fato de que alguém está livre do ódio em sua mente, surge a boa vontade. 2) Da boa vontade, nascem a lucidez e um horizonte mais amplo.
 
3) Um ponto de vista lúcido abre as portas para a amizade e a fraternidade. 4) Da fraternidade surge a cooperação honesta. 5) Uma sincera ajuda mútua abre espaço para a prosperidade comum. 6) Uma vez que surge um bem-estar compartilhado, a paz entre as nações se torna inevitável. 7) Isso, no entanto, só ocorrerá na medida em que forem preservados um sentido de equilíbrio e a prática da moderação.
 
Haverá uma quantidade significativa de erros, naturalmente. No entanto, a modéstia protege o bom senso. A experiência acumulada permite obter pouco a pouco a sabedoria que necessitamos. Incessantemente a vida renova a si própria, e uma paz viva, dinâmica, é um  resultado natural da nossa capacidade de aprender.
 
NOTA:
 
 
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O artigo “As Causas da Guerra, e da Paz” está disponível nos websites da Loja Independente de Teosofistas desde 15 de novembro de 2023. Trata-se de uma tradução, feita pelo autor, do texto “The Causes of War, and of Peace”, que também pode ser lido no blog teosófico em “The Times of Israel”.
 
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 
 
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