Em 1942 Já se Sabia: Educação da Vontade é
Necessária Para Que Haja Moralidade e Ética
 
 
João Serras e Silva
 
 
 
Lisboa em meados do século 20: aguarela de Vanessa de Azevedo.
 
 
 
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Nota Editorial de 2024
 
Na década de 1940, a educação moral era um
tema popular. O artigo a seguir é um exemplo disso.
Em Portugal e no Brasil, pensadores notáveis escreviam
sobre a necessidade da construção de uma consciência ética,
tanto no mundo individual como na comunidade, e também
entre as nações. Depois começou a acontecer uma falha
coletiva de memória. O materialismo imediatista ganhou força
e a necessidade de viver de maneira correta foi caindo no
esquecimento, pelo menos em grande parte da mídia. Felizmente a
vida é cíclica. O que morre, renasce, e a sabedoria do passado ressurgirá.   
 
(Carlos Cardoso Aveline)
 
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Tudo se tem esperado da ciência: erudição, saber, descobertas, invenções, trabalho intelectual são as divindades dos tempos modernos. Atitude errônea e prejudicial que deixa ao abandono a parte mais nobre do homem – o senso moral.
 
A experiência diz-nos todos os dias que o saber não chega para organizarmos honestamente e sadiamente a vida. Não é por falta de saber ou por erro de inteligência que o alcoólico não abandona a sua paixão que o degrada e consome – é por impotência da vontade; não é por ignorância do mal que o fumador continua a irritar a garganta, os brônquios e a intoxicar o sistema nervoso, não é por desconhecimento do mal, é por fraqueza da vontade; e o vicioso, o debochado, ignora ele porventura aonde o levam os seus desvarios, em que perde a saúde, a fazenda e a reputação? Não é a inteligência que falta, é a vontade que mingua.
 
E o pobre jogador, que se balouça todos os dias sobre o abismo, dominado pela vertigem dum sucesso, que sempre lhe escapa, é a vítima da ignorância ou da abulia? São os doentes da vontade, os débeis da vontade; farrapos humanos que o destino arrasta, como as folhas mortas, levadas pelo vento do outono.
 
A nossa incúria em cultivar e desenvolver a vontade é verdadeiramente criminosa. Quantas vezes dizemos diante de crianças: “Faz-me mal, mas não lhe posso resistir.” Não podemos porque não nos dispomos a querer.
 
Prevost, o célebre abade, escreveu: “Como é difícil retomar um pouco de vigor, quando fizemos da fraqueza um hábito! Custa tanto combater pela vitória, quando nos costumamos à doçura de nos deixar vencer!”
 
Ser forte de vontade é a primeira condição da moral e do carácter. Sem esta base, sem uma vontade forte, todo o edifício moral desabará ao sopro da primeira tempestade. Quantas vezes o cristão paga as fraquezas do homem.
 
Façamos homens primeiro que tudo.
 
Alguém, que muito tinha visto e meditado, dizia: “Não se podem ter cristãos fortes com naturezas fracas e anêmicas.” (…)
 
O ideal é o norte, ou a bússola para orientar o esforço. A atitude do espírito, a disposição da alma, favorável ao esforço, a decisão, é o querer; o exercício cotidiano é a ação.
 
(…)
 
A técnica da ação para desenvolver a vontade está clara; – todos podem em cada momento procurar desenvolver esta preciosa faculdade. Uma abstenção de falar ou de ficar calado; a privação duma satisfação de vaidade, de curiosidade, de gula, de mil coisas é bastante para fortificar a vontade. Como há uma ginástica para fortificar os músculos entorpecidos, há também uma ginástica para tonificar uma vontade anêmica.[1] Num e noutro caso os peritos inventaram uma técnica apropriada.
 
NOTA:
 
[1] A propósito da semelhança entre o esforço espiritual e o esforço da ginástica física, examine o item três no artigo “A Consciência de um Mahatma”.  
 
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O texto “Como Educar a Vontade” foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas no dia 26 de fevereiro de 2024. Ele pode ser lido também na edição de julho de 2023 de “O Teosofista”, pp. 16-17. Trata-se de uma reprodução de trechos selecionados da Carta-Prefácio de João Serras e Silva (1868-1956), no livro “Papel da Vontade na Educação”, de Manuel Trindade Salgueiro. A obra de Trindade Salgueiro foi publicada pela Editora Casa do Castelo em Coimbra, Portugal, em 1942, com 246 páginas: ver pp. 7 a 10.
 
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Leia mais:
 
 
 
 
* Como Renovar a Consciência (de João Serras e Silva).
 
 
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 
 
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