O Processo do Caminhar Morro Acima
Amplia o Horizonte e Muda a Paisagem
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
 
 
* A fonte da sinceridade é o respeito por si mesmo: quem mente não tem verdadeira autoestima.
 
* Ouvir a paz do silêncio é fundamental. A quantidade correta de descanso permite obter eficiência e durabilidade no trabalho.
 
* Para quem estuda o tempo eterno, cada minuto é valioso. Os desinformados, porém,  jogam tempo fora.
 
* Fala-se melhor através de ações do que de palavras.
 
* A fala iluminada é modesta. Flui em harmonia com as ações, reflete fielmente os fatos e não pretende substituí-los.
 
* Ação e contemplação andam juntas. Carma ioga, a disciplina da ação altruísta, protege a prática de Jnana ioga, a abordagem direta das verdades universais.
 
* A energia nunca é desperdiçada se o coração está presente naquilo que fazemos. Porém, é possível melhorar o modo como usamos o tempo.
 
* Se queremos compreender as partes, é preciso enxergar o todo. Para aproveitar melhor o tempo disponível a cada dia, cabe obter uma noção clara da Duração eterna.
 
* O discernimento se expande à medida que o estudante mantém diante de si uma meta clara e nobre e passa a aprender com mais rapidez as lições produzidas pelos seus próprios erros.
 
* A austeridade individual produz bem-aventurança. Se a sua vida lhe parece “demasiado desconfortável”, examine a possibilidade de que esteja sendo excessivamente indulgente consigo mesmo.
 
* A compaixão universal é um bálsamo. O poder curativo do amor é transcendente e sua força surge da experiência direta da unidade na diversidade.
 
* A coragem é necessária para buscar o melhor. As potencialidades humanas são exteriormente modestas, e interiormente ilimitadas. A humildade e o realismo permitem alcançar de imediato a paz. 
 
* Um jeito eficiente de obter serenidade é desenvolver uma certa indiferença diante das oscilações superficiais da maré da  existência. O desapego em relação às coisas pequenas decorre de uma visão ampla do mundo.
 
* Uma biblioteca oferece uma forma segura de viajar no tempo. Lúcio Sêneca (4 AEC – 65 EC) escreveu que através dos livros o indivíduo pode tornar-se amigo dos maiores sábios de todos os tempos. [1]
 
* Amar significa buscar a felicidade do outro, ou dos outros, mais do que a sua própria. O sentimento produz uma intensa bem-aventurança, e isso por uma razão muito simples: ele liberta o indivíduo da prisão estreita do egoísmo.
 
* Mantendo organizadas as coisas de pequena importância, podemos dedicar-nos de consciência limpa às questões que realmente importam.
 
* Ao colocar o coração no que é eterno, alcançamos a simplicidade voluntária em relação a temas materiais.
 
* A inveja implica o desejo de roubar outra pessoa.
 
* Debaixo da superfície, o invejoso sofre de uma grave falta de autoconfiança e autoestima.  
 
* A admiração saudável do outro e a boa vontade resultam de uma relação correta entre o indivíduo e os seus próprios níveis superiores de consciência.
 
* A existência humana inclui obstáculos e desafios. Para expandir o contentamento interior, o estudante precisa desenvolver um desapego em relação às circunstâncias externas.
 
* A renúncia e a independência não suprimem a atenção, mas ao contrário a expandem ao libertá-la de distorções.
 
* A ausência de apego cego e rejeição automática torna eficaz a vigilância e aprofunda a compreensão.
 
* Criticar e mostrar erros é tão natural  – e tão necessário – quanto receber críticas. Ao pensar nos erros dos outros, porém, não devemos ser ingratos em relação a eles; nem para com a Vida.
 
* O indivíduo sensato lembra dos seus próprios erros. Estando consciente das suas limitações, ele tem uma perspectiva mais adequada para olhar as falhas e os acertos dos que o rodeiam.  
 
* A separação entre pensamento e emoção é um ponto central no processo da ignorância que fragmenta a percepção da realidade. O correto é sentir os pensamentos e pensar as emoções.
 
* Cabe compreender com o raciocínio e perceber com o sentimento tanto as nossas ações como as ações dos outros. Estes aspectos básicos da integridade da alma ajudam o despertar da intuição espiritual.
 
* Não se pode confundir altruísmo com obediência, ou submissão.
 
* É um fato que a generosidade inclui a capacidade de ceder. No entanto, a existência humana é complexa. Além da renúncia, são necessárias a firmeza, a determinação e a criatividade.
 
* O caminho espiritual exige que o peregrino compreenda a lição clássica de Epicteto, e que faça menos exigências à vida e menos exigências aos outros, concentrando-se naquilo que ele mesmo pode realizar e que depende de si. [2]
 
* Viver com altruísmo implica ter a força de caráter necessária  para dizer “não” ao mundo pequeno do egoísmo. E é recomendável uma certa coragem para abrir caminho novo, ali onde ele ainda não existe.
 
* Veja a experiência acumulada pelo seu eu inferior como um livro transcendente, no qual cada ação está registrada para que sua alma imortal possa melhor observar o todo. Até que ponto o livro é valioso? Como editar o conteúdo e corrigir ou compensar os erros, de modo que o eu superior, ao lê-lo, encontre mais material útil?
 
* Seja vigilante. Não há diferença ou separação entre o ato de viver e o registro das suas ações no Livro da Vida. A todo momento, novas linhas são escritas e inseridas no livro de registros.
 
* O mundo não é compreendido subitamente. Em algumas ocasiões especiais, podemos fazer grandes descobertas e ter experiências que mudam o modo de olhar para a vida e para nós mesmos: mas a descoberta da verdade se dá passo a passo, lentamente, e por camadas.
 
* A cada etapa, muda a nossa visão da realidade e mudamos nós. Uma camada de verdade tem sempre uma paisagem que lhe é própria.
 
* Se nos apegássemos à visão de mundo que temos hoje não poderíamos continuar a caminhada morro acima, porque o processo do caminhar amplia o horizonte e muda a paisagem.
 
* Chegar a uma camada mais alta de visão da realidade produz uma nova substância psicológica na alma. Faz surgir outras formas de devoção e de integridade, mais firmes e mais abrangentes.  
 
* O bom senso é essencial em altitudes elevadas. Quanto mais subimos, mais necessários são o sentido de equilíbrio e a capacidade de colocar os pés com firmeza no chão da realidade. Os obstáculos ensinam o peregrino a fazer o melhor possível em cada situação.
 
* Em relação ao futuro, é suficiente que cada cidadão de boa vontade se transforme num centro ativo de paz e justiça para os seres a seu redor e para a vida em seu conjunto.
 
* Om, shanti.
 
NOTAS:
 
[1] Leia o capítulo quatro da obra “Conversas na Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline (Edifurb, Blumenau, SC, 2007, 170 pp.). O capítulo é intitulado “Lúcio Sêneca e a Arte da Simplicidade”.
 
[2] Sobre a filosofia de Epicteto,  examine o capítulo cinco de “Conversas na Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline (Edifurb, 2007).
 
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O artigo acima foi publicado como texto independente em 2 de maio de 2018. Uma versão inicial dele está incluída de modo anônimo na edição de julho de 2015 de “O Teosofista”.
 
Embora o título “Ideias ao Longo do Caminho” corresponda ao título em língua inglesa “Thoughts Along the Road”, do mesmo autor, não há uma identidade exata entre os conteúdos das duas coletâneas de pensamentos.
 
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