Ter uma Força Autêntica Implica
Ausência de Egoísmo e de Vaidade
 
 
Carlos A. Vieira
 
 
 
 
 
É estranho falar-se em ânsia de poder referindo-se aos buscadores da natureza verdadeira, uma vez que estes indivíduos estão dotados de uma vontade de autossuperação. No entanto, justifica-se em parte este tipo de ânsia, porque a descoberta de determinados conhecimentos e de certas leis, num período de ainda imaturidade psicológica, leva certamente o buscador à tentação do exercício do poder que, no fundo, é uma forma de autoglorificação.
 
O certo, porém, é que esta forma de autoglorificação é das mais destruidoras, considerando-se que, de um modo geral, implica em domínio sobre e utilização de outros seres, com a finalidade de expansão do ego.
 
Esta ânsia de poder é tanto mais perniciosa quanto maior o grau de inconsciência do buscador, uma vez que não consegue perceber o alcance de sua ação dominadora.
 
Também há de se observar que, no fundo, a ânsia de poder manifestada por um sincero buscador, pode ser tão-somente uma má interpretação da ânsia de servir. E esta crença pode conduzir a enganos nefastos.
 
São clássicas as descrições da tentação de Jesus e de Sidarta. Ambos vitoriosos no confronto com esta parte da natureza humana, a que anseia o domínio. O problema da tentação do poder está em a criatura acreditar que a raiz do poder está nele, que é ele quem pode algo ou alguma coisa, contra alguém, contra algo ou contra alguma coisa. Em verdade, o único poder real está em permitir que flua através da consciência a vontade superior. Esta manifestação de poder real, no entanto, é sempre exercício do poder de servir. Mesmo quando a aparência de um poder temporal é assumida, muitas inteligências são chamadas a servir nesta tônica, não só para construir, mas também para levar à destruição formas peremptas [1] e sem mais significado na economia cósmica.
 
Mas este tipo de poder é raro, visto que implica ausência de egoísmo, de vaidade, de autoglorificação. É uma tônica de difícil interpretação e execução.
 
Porém deve ser exercido o poder, sobretudo por inteligências esclarecidas pela luz da razão maior e pela extrema compaixão, a fim de que certos parágrafos e alíneas da grande lei sejam cumpridos.
 
NOTA:
 
[1] Perempta: sem vida, sem efeito. (CCA)
 
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O artigo acima foi publicado nos websites associados dia 02 de dezembro de 2019, tendo sido reproduzido do livro “Passos no Caminho do Autoconhecimento e da Auto-realização”, de Carlos A. Vieira, Thot Livraria e Editora Esotérica, Brasília-DF, 1987, 64 pp., ver pp. 47-50. Título original: “A Ânsia de Poder”. A ortografia foi atualizada.
 
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Veja “Lições dos Judeus Sobre Humildade”, de Malba Tahan.
 
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