Enfrentando Confusão Emocional,
Desorientação, e Psicose em Grande Escala
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
Frieda Fromm-Reichmann (1889-1957), e o livro sobre sua vida e seu trabalho
 
 
 
Erich Fromm é popular entre os teosofistas. [1] No entanto, relativamente poucos estudantes de filosofia esotérica sabem que a esposa de Fromm foi uma psiquiatra extraordinária, e tratou com êxito a esquizofrenia e outros transtornos psicóticos por meios psicanalíticos, sem usar remédios de farmácia.
 
Em geral, os teosofistas que leram os escritos de H. P. Blavatsky sobre psicologia e conhecem as obras de Fritz Kunkel ou Georg Groddeck evitam acreditar cegamente na atual terminologia e classificação das formas de sofrimento psicológico que envolvem mais o subconsciente do que o consciente. Essas formas de dor são chamadas de psicóticas, e incluem a histeria. [2]
 
Levando em consideração o momento atual da humanidade, há vários motivos para dedicar uma calma atenção ao tema das doenças psicóticas. Vejamos alguns deles:
 
1) É grande o número de pessoas que sofrem de doenças psicóticas hoje em dia no Ocidente. O fato está bem documentado e é fácil de observar na vida cotidiana. À medida que passa o tempo, o problema vem se agravando. O uso crescente de drogas como cocaína e maconha induzem seus consumidores à psicose. As duas drogas são bastante “populares” hoje em dia no Ocidente. Vários livros bem documentados ​​demonstram que o seu uso abre as portas da psicose. [3]
 
2) O vício em drogas e bebidas alcoólicas é generalizado nas elites políticas, financeiras e econômicas da civilização ocidental. Os escândalos que revelam este tipo de comportamento por parte de personalidades famosas são numerosos e envolvem chefes de Estado, primeiros-ministros, seus principais assessores e outras personalidades influentes – para não falar de artistas de destaque.
 
3) Por outro lado, os aspectos dogmáticos da religião ocidental são vistos por Freud como não muito distantes das formas coletivas de psicose. Veja o artigo “A Psicanálise das Religiões”.
 
4) É bem conhecida a íntima relação que há entre nazismo, fascismo e psicose. Seria interessante saber, por exemplo, o que um psicanalista teria a dizer sobre a explosão de duas bombas atômicas por parte dos Estados Unidos, no Japão, em 1945. Os EUA empregaram armas nucleares para matar populações civis indefesas, ao mesmo tempo que se apresentavam como campeões mundiais do amor pela vida e como os maiores defensores dos direitos humanos em nosso planeta. O bombardeio de Hiroshima e Nagasaki foi uma ação psicótica? Terá sido algo sensato e moderado? Ou foi um ato doentio e desequilibrado, principalmente se considerarmos que o Japão já estava militarmente derrotado naquele momento? Essas questões merecem atenção.
 
Deve-se buscar um diagnóstico psicanalítico e psiquiátrico das guerras promovidas pelos países ocidentais após a década de 1940. Estou pensando na Coreia, no Vietnã, no Iraque, no Afeganistão, e no processo de proliferação nuclear. Sem falar no crescimento explosivo das vendas de armas “convencionais”, mesmo em tempos de paz.
 
A irrupção coletiva da irracionalidade absoluta – um amor cego pela destruição em grande escala – parece ser cíclica na história humana. É claramente recorrente, repetitiva, e Sigmund Freud estudou o processo.
 
O fenômeno do “ódio ilimitado” na vida social foi examinado por Helena Blavatsky em seu revelador artigo “Turkish Barbarities”. Esta doença epidêmica deve ser observada em suas raízes pessoais, pois são os cidadãos, como indivíduos, que produzem a substância básica das nações.
 
Um Livro Sobre a Vida e a Obra de Frieda
 
Pensadora judia alemã que passou por perseguição na Alemanha nazista e teve que ir para o exílio, Frieda Fromm-Reichmann (1889-1957), sabia por experiência direta o que são a dor e o desespero humanos. Frieda está entre os poucos que tentaram curar a psicose do ponto de vista da Psicanálise. Ela alcançou um sucesso considerável, conforme é mostrado em sua bem documentada biografia “To Redeem One Person is to Redeem the World” (Salvar uma Pessoa é Salvar o Mundo).[4]
 
O texto de apresentação da obra, nas livrarias, revela que Frieda “tratou com sucesso pessoas sofrendo de esquizofrenia e outros pacientes mentais em estado grave. Usou para isso psicoterapia intensiva ao invés de medicação, de lobotomia ou tratamento de choque”.
 
O livro foi “escrito com acesso sem precedentes a um amplo arquivo de materiais clínicos e registros e documentos recém-descobertos de toda a Europa e dos Estados Unidos”.
 
Em seus escritos, Frieda deixa claro que a maneira correta de interagir com uma pessoa que apresenta comportamento “psicótico” inclui ir além do campo do diálogo verbal. A empatia é um fator decisivo, mesmo na presença de violência.[5] Neste ponto podemos dizer que a teosofia acrescenta: um conhecimento da tradição Zen ajudará a ultrapassar os limites das palavras e transcender a mente conceitual, isto é, a perspectiva do mero discurso desligado da ação.
 
Em círculos teosóficos e esotéricos, as lutas mais intensas pelo poder e pela liderança geralmente incluem formas mentais e ocultas de violência, que acontecem sob a aparência elegante de discordâncias filosóficas, intelectuais e institucionais. A forte busca psicológica de poder e de glória pessoal nas organizações espirituais parece estar ligada ao problema dos pacientes obsessivos. Eles muitas vezes “se retiram para um mundo privado de secreta grandeza pessoal”. [6] Eles se convencem de que são altos Iniciados; de que são a reencarnação de algum grande líder e Salvador da humanidade; de que podem conversar com Mestres espirituais, ou são clarividentes e clariaudientes. A clarividência imaginária faz parte do mundo psicótico.
 
A Extrema Fragilidade e a ‘Onipotência Secreta’
 
Com frequência o problema surge quando uma pessoa tem desde a infância um forte sentimento de ser alguém destituído de valor, inútil, indefeso, ou de ser “profundamente mau e ruim por dentro”. Tais indivíduos geralmente constroem até onde é possível uma camada secundária de bondade e onipotência, de modo a compensar seu sofrimento e sua fragilidade interna.
 
O sentimento de onipotência imaginada é fácil de encontrar nos livros de Carlos Castaneda, lado a lado com o uso de ervas psicotrópicas. O problema da “onipotência” não é raro nos círculos esotéricos. O sofrimento subconsciente tende a provocar compensações emocionais imaginárias. Todo estudante de religião e filosofias místicas deve estar atento a esta possibilidade. Uma compreensão racional do processo da dor na alma humana evita transtornos psicóticos.
 
O fato é que os limites entre psicose e neurose não são claros. A psiquiatria costuma detectar as “crises psicóticas”, e lida precariamente com elas. As raízes mais amplas do processo são invisíveis na vida cotidiana, a menos que se desenvolva uma atenção específica em relação ao funcionamento da consciência.
 
No plano social, por exemplo, uma sensação doentia de onipotência pode ser experimentada através do processo de pesquisar, desenvolver, instalar e ter a possibilidade real de usar armas atômicas ou biológicas. Esta maneira infeliz e desequilibrada de viver inclui outras formas de “busca de poder absoluto”, como o uso do hipnotismo em massa por meio de propaganda em larga escala, para produzir a manipulação subconsciente de comunidades e nações inteiras.
 
A adoração política de líderes e organizações “infalíveis” são expressões do mesmo problema. Falsos santos e líderes religiosos “onipotentes” não são difíceis de encontrar nas mais diversas nações ocidentais. Essas formas de doença são difíceis de curar, porque ocorrem em comunidades inteiras e porque a psicose é muitas vezes bem disfarçada e firmemente “negada” por quem a sofre. O cidadão que busca a verdade deve ter a coragem de pensar por si mesmo, e precisa fugir de ilusões espetaculares. É graças ao uso de um calmo discernimento e do bom senso que ele progride no caminho do autoconhecimento.
 
Frieda Fromm-Reichmann foi uma grande pensadora ética e uma amiga da humanidade. O efeito curativo de seus escritos e de sua biografia, escrita por Gail A. Hornstein, vai além do mundo dos transtornos psicóticos. Frieda nos ajuda a entender os perigos de todos os “sentimentos intensos e automáticos de medo e ódio”, sejam eles individuais ou coletivos.
 
A biografia de Frieda torna mais fácil compreender os efeitos práticos do atual uso generalizado de drogas que provocam psicose, entre as elites sociais ocidentais, assim como a sua relação com o carma coletivo, no contexto mais amplo da Doutrina dos Ciclos na história humana.
 
É preciso dizer também que a obra “To Redeem One Person is to Redeem the World” é muito bem escrita e extremamente agradável de ler.
 
NOTAS:
 
[1] Veja a lista de textos e livros de Fromm nos websites associados.
 
[2] Veja por exemplo o artigo “A Política da Histeria”. Quanto aos escritos de H.P. Blavatsky, examine “Um Caso de Obsessão”.
 
[3] Por exemplo: “Marijuana Debunked”, a handbook for parents, pundits and politicians, obra de Ed Gogek, M.D., Chiron Publications, Asheville, North Carolina, U.S., copyright 2015, 331 páginas.
 
[4]To Redeem One Person is to Redeem the World: The Life of Frieda Fromm-Reichmann”, de Gail A. Hornstein, Other Press, New York, 2005, 478 pp., copyright 2000.
 
[5] Principles of Intensive Psychotherapy”, Frieda Fromm-Reichmann, M.D., The University of Chicago Press, Chicago and London, copyright 1960, 246 pp.
 
[6] Principles of Intensive Psychotherapy”, Frieda Fromm-Reichmann, p. 115.
 
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O texto “Salvar Uma Pessoa é Como Salvar o Mundo” foi publicado nos websites associados dia 31 de outubro de 2022. Trata-se de uma tradução, feita pelo autor, do artigo “To Redeem One Person is to Redeem the World”.
 
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Leia mais:
 
 
 
 
 
 
 
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 
 
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