A Oração Produz um Estado de Alma Capaz
de Levar o Ser Humano a seu Ponto Culminante
 
 
Jean des Vignes Rouges
 
 
 
Visão parcial de um quadro de Qiyue Wang
 
 
 
… É por isso que tantos psicólogos veem a
oração como um meio para concretizar um
“eu superior” que unifica a personalidade…
 
 
 
Todos os observadores reconhecem o fato de que a oração é um meio poderoso de estímulo psíquico.
 
Examinemos primeiro a sua eficácia do ponto de vista da psicologia positiva. Verifica-se imediatamente que, no estado de oração sincera, o sujeito, através dos seus pedidos de piedade e de ajuda, através das suas súplicas, dos seus gritos de angústia – formas habituais de oração – encontra-se num estado emocional que equivale a uma verdadeira mobilização de todas as suas energias. É por isso que tantos psicólogos veem a oração como um meio para concretizar um “eu superior” que unifica a personalidade; o autor da prece tende a superar a si mesmo ao colocar em ação as forças do seu inconsciente; todas as suas capacidades criativas são estimuladas ao máximo. Não é de admirar, então, que ele se sinta apoiado, confortado e, na verdade, torne-se mais capaz de querer.
 
Outros psicólogos veem a oração como uma forma de encantamento mágico que a humanidade pratica há milênios e que, portanto, faz despertarem poderosas tendências ancestrais adormecidas. Alguns filósofos consideram a oração como um “encanto” exercido sobre Deus para conquistá-lo através do amor.[1] Outros ainda propuseram a hipótese de ondas psíquicas emitidas pelo praticante da oração e transportadas por telepatia. William James vê na prece um empréstimo obtido junto às forças cósmicas, e o doutor Freud, finalmente, enxerga nela uma sublimação do instinto sexual.
 
Do ponto de vista místico, a prece é uma forma de se relacionar com a Divindade. Ela cria em nós as condições psicológicas necessárias para conhecer e compreender Deus, e para sentir amor por Ele. A oração tende, portanto, a desenvolver o estado de graça.
 
Inegavelmente, o devoto que ora com fervor retira da prece uma força extraordinária. Para comprová-lo basta evocar os incontáveis atos de heroísmo, de resignação histórica, de abnegação, de sacrifício que a História registra e que foram realizados por homens que oravam inspirados por uma fé religiosa.
 
A oração não se limita a criar um estado de tensão capaz de levar o ser humano ao seu ponto mais alto. Ela também refina e purifica a vontade do indivíduo. Com efeito, é rezando que o crente aprofunda, desenvolve e aperfeiçoa estados de espírito como o arrependimento, o altruísmo, a obediência, o abandono de si mesmo, os quais, se não existisse a oração, correriam o risco de permanecer como ideias vagas e ineficientes.
 
Por outro lado, o homem que reza desperta em si mesmo um sentimento quase indefinível do ponto de vista psicológico e que, no entanto, desempenha um papel considerável entre os sentimentos que levam a querer: o sentimento do “sagrado”; a impressão de que existem forças, leis, valores morais, seres e uma divindade, enfim, diante dos quais devemos prostrar-nos com veneração e amor, e aos quais devemos obedecer.
 
A oração é, portanto, um meio incomparável de espiritualização, e através dela o crente se torna verdadeiramente um instrumento de Deus. Ao rezar, ele se une intimamente à lei suprema que regula a criação e a ordenação do mundo.[2] A consciência direta disso transforma o devoto e o eleva. 
 
Sem abandonar o tema da presente obra nem os seus métodos pedagógicos, posso, portanto, recomendar a oração como um “procedimento” capaz de dar à vontade uma espécie de impulso sagrado. Esta “exaltação” é particularmente benéfica quando se trata de uma oração de agradecimento à Divindade por um êxito alcançado. Consideremos o estado de espírito de um homem que pensa sinceramente:
 
“Deus está comigo!”
 
Ele sente no mais alto grau esta “sensação de triunfo” que Pierre Janet considera, com razão, um dos estimulantes mais eficientes da vontade.
 
Quanto à técnica usada para orar, ela pode ser tanto uma invocação cujos termos são inventados pelo praticante, como a recitação de um texto. A literatura religiosa oferece opções numerosas.
 
Maomé exige que a oração seja pronunciada em voz alta. A escola de psicologia behaviorista está de acordo com ele sobre a virtude da palavra efetivamente proferida.
 
Quanto à posição do corpo, a posição “de joelhos” é tradicionalmente adotada na oração porque expressa a humildade e a submissão. Os romanos, ao orarem, abraçavam os joelhos dos deuses, portanto o próprio praticante da oração tinha que estar de joelhos.
 
NOTAS:
 
[1] Deus: segundo a teosofia, a ideia de um Deus pessoal é uma ilusão, ou uma imagem poética. A vida é regida por uma lei divina impessoal e por uma pluralidade de inteligências cósmicas que servem apenas à Lei Única. A oração, em filosofia esotérica, deve expressar uma vontade ativa, uma intenção própria, e não um mero pedido de favor a algum deus pessoal. (CCA)
 
[2] Em outros termos, a Divindade é a Lei Universal. (CCA)
 
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Jean des Vignes Rouges é o pseudônimo literário do militar e escritor francês Jean Taboureau (1879-1970).
 
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O artigo “Tensão Voluntária Durante a Prece” está publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas desde o dia 21 de novembro de 2023. Foi traduzido do livro “Dictionnaire de la Volonté”, Méthode D’Éducation de la Volonté, de Jean des Vignes Rouges, Éditions J. Oliven, Paris, 320 pp., 1945, pp. 244-245. A tradução é de Carlos Cardoso Aveline. Veja o texto original em francês: “La Tension Volontaire dans la Prière”.
 
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 
 
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