Todo Buscador da Verdade Enfrenta Desafios
Enquanto Avança na Prática da Ação Correta
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
 
 
“… Coragem, pois, todos vocês, que
querem ser guerreiros da Verdade una
e divina; prossigam com valentia e
confiança; alimentem sua força moral (…).” [1]
 
 
 
Alcançar a sabedoria esotérica implica um certo conflito.
 
O Bhagavad Gita, o Novo Testamento, o Dhammapada, as Cartas dos Mahatmas e outros ensinamentos clássicos usam a metáfora da guerra contra a ignorância, e Helena P. Blavatsky escreveu, sobre esta batalha silenciosa:
 
“Necessitamos toda a nossa força para enfrentar as dificuldades e os perigos que nos rodeiam. Temos que enfrentar inimigos externos na forma de materialismo, preconceito, e teimosia; os inimigos que assumem a forma de costumes e ações religiosas; inimigos tão numerosos que nem podemos mencioná-los; mas quase tão densos quanto as nuvens de areia levantadas pelo vento Siroco do deserto. Será que não necessitamos usar nossa força contra estes inimigos?”
 
HPB prossegue:  
 
“E no entanto, há inimigos mais insidiosos, que ‘usam o nosso nome em vão’, e transformam a palavra Teosofia num lugar-comum na cabeça dos medíocres, e o [movimento] teosófico num alvo no qual se atira lama. Eles caluniam os teosofistas e a teosofia, e convertem a Ética moral numa capa para encobrir os seus próprios objetivos egoístas. E como se isso não fosse suficiente, há os piores entre todos os inimigos – aqueles que estão dentro da própria casa teosófica -, os teosofistas que são desleais tanto para [o Movimento] como para si mesmos. Deste modo, vivemos realmente no meio de inimigos. Diante de nós e ao nosso redor está o ‘Vale da Morte’, e precisamos atacar nossos inimigos – enfrentando diretamente as suas armas – se quisermos vencer a batalha.”
 
HPB conclui com uma pergunta:
 
“A cavalaria – homens e cavalos – pode ser treinada para avançar quase como um só homem em um ataque no plano terrestre; será que não devemos combater e vencer a batalha da Alma lutando em harmonia com o Eu Superior para conquistar o nosso patrimônio divino?” [2]
 
Não há amigos ou inimigos em Teosofia: todos são nossos instrutores, conforme “Luz no Caminho” esclarece.  
 
Os adversários de um buscador da Verdade estão fundamentalmente no seu próprio mundo interno, e secundariamente no mundo externo. Eles expressam o carma comum negativo, acumulado devido à falta de sabedoria dos seres humanos. Os desafios ajudam o peregrino a obter uma vitória durável. Ele deve manter a paz interior, enquanto luta, porque a lucidez é inseparável da calma.
 
As falsidades devem ser desmanteladas com uma atitude serena e vigilante. O guerreiro que sente raiva profunda é derrotado. A vitória resulta de uma ação estável, desenvolvida com precisão. Isso depende de uma observação atenta e confiante dos fatos. Uma pronta ação é necessária quando surge o momento adequado – e não antes. É preciso ser capaz de esperar ao mesmo tempo que se está pronto para a ação. A vitória do guerreiro começa dentro da sua consciência: ele sabe que ele próprio é o campo de batalha.
 
A Topografia da Mente Humana
 
Existe uma Geografia do Espírito, e a psicologia com frequência vê a alma humana como um território. Na parte IV do seu ensaio “O Inconsciente”, Sigmund Freud discute a Topografia da mente humana. Portanto, quando o peregrino busca obter autoconhecimento, é preciso examinar quem, ou o quê, controla o “espaço” e o “solo” da sua mente. Como é exercido este controle, com que objetivo?
 
Quanto por cento da nossa mente está dedicada a assuntos que chegam a ela e chamam a sua atenção porque alguém ou algum grupo econômico pretende ganhar dinheiro, ou obter mais poder através do uso manipulador da mídia eletrônica?
 
Até que ponto os nossos cérebros físicos estão agora adaptados a estímulos externos, dependendo deles de uma maneira que impede quaisquer raciocínio ou percepção profundos? É necessário um tranquilo silêncio interior, para que a compreensão verdadeira e a contemplação possam acontecer.
 
A teosofia combate as causas da ansiedade. Três fatores básicos exigem calma: o autorrespeito, o autoconhecimento e o autocontrole. Quem quiser levar adiante uma vida correta não pode ter a sua mente levada para lá e para cá a todo momento devido a pressões externas cujo ritmo é ditado por interesses comerciais.
 
Há uma guerra não declarada de empresas em busca de lucro através de propaganda. A meta é controlar as mentes das pessoas, transformando os cidadãos em meros “consumidores” mais ou menos autômatos. A consciência do nosso eu superior precisa atuar como um guerreiro, portanto. Um guerreiro que desafia as formas de comércio nas quais a alma não está presente, e combate de frente todos mecanismos ilegítimos de controle mental.
 
Embora a paz interior esteja disponível o tempo todo em quaisquer circunstâncias, o peregrino deve treinar a si mesmo até tornar-se um guerreiro da Sabedoria. Desta maneira ele terá acesso ao conhecimento divino.  
 
Cada dia de 24 horas é a grande batalha. Embora o principal inimigo do aprendiz seja a sua própria ignorância, ele deve também desafiar a ignorância organizada ao seu redor. Precisa combater as duas, porque elas são inseparáveis.
 
Os aliados do guerreiro são os bons pensamentos, a autodisciplina, e uma decisão de aprender e de construir a paz. A torre de vigia desde a qual o guerreiro observa a vida deve ser o ponto de vista mais elevado que a sua consciência consegue adotar.
 
O eu superior do guerreiro fala a ele como um irmão mais velho, sem necessidade de palavras. A voz sem som que ele ouve é a voz da sua própria consciência; ela fala sobre justiça, percepção interior – e bênção.
 
NOTAS:
 
[1] “Cartas dos Mahatmas”, Editora Teosófica, Brasília, 2001, volume dois, carta 130, p. 287. A imagem fac-similar destas palavras escritas pelo Mestre está reproduzida na abertura da Parte Um (Part One) do livro “The Fire and Light of Theosophical Literature”, de Carlos Cardoso Aveline, The Aquarian Theosophist, 2013.
 
[2]Five Messages”, de H. P. Blavatsky, Theosophy Co., 1922, pp. 13-14. O livreto está disponível nos websites associados. Neste trecho, ao invés de “Sociedade Teosófica”, colocamos entre colchetes a expressão “movimento teosófico”, já que a Sociedade fundada por Helena Blavatsky 1875 fragmentou-se e deixou de existir pouco depois da morte dela. Há hoje um movimento teosófico bastante diversificado. Sobre a linhagem a que pertence a Loja Independente de Teosofistas, veja o artigo “Estudos Sobre a Pré-História da LIT”.
 
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O artigo “A Teosofia e a Metáfora da Guerra” foi publicado nos websites associados no dia 09 de julho de 2022 e é uma tradução de “Theosophy and the Metaphor of War”.  A tradução foi feita pelo autor.
 
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Leia mais:
 
 
 
* O Mistério dos Templários (de Helena P. Blavatsky).
 
 
 
 
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Leia a Parte Um da obra “Três Caminhos para a Paz Interior”. Com sete capítulos, ela é intitulada “O Caminho do Guerreiro”. O livro é de Carlos Cardoso Aveline e foi publicado pela Editora Teosófica, em Brasília, em 2002. Possui 191 páginas.
 
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